Graças aos romancistas não me toma a solidão a essa hora. Me sinto amparado ao ver palavras que quero dizer saindo da ponta da pena de um semelhante. Isso nos une.
Não me ponho em patamar de clássicos, claro que não, de grandes nomes. Só fica o desejo de que pudessem saber agora que: se há bem uma razão para que meus pés toquem esse mesmo chão, essa é de fazer os demais acreditarem que de tudo só há verdade no que escreveram aos séculos que passaram e ficaram. Não há ficção.
Dói dor concreta, não se faz metáforas nem sinestesias. É porque é, e , às vezes, nem devia ser.
Caso ocorra de ser apenas dessas noites tais, que seja como se não fosse a primeira, mas que se conserve tal sabor. Como todas e como a última então.
Que enlouqueças, não penses, não ponderes mais. O tempo ali será, como vais lembrar, infinito e breve. Tudo o que conseguir imaginar, será. O que tiver vontade, onde houver mistério, tudo que é novo e velho conhecido, ao mesmo tempo.
Quero que queime, que arda, seja cicatriz, tatuagem.
Pode até dar nome de passageiro se caso, ao fim, prevalecer tal desejo. Mas há de marcar a pele. Não vais poder ver tal marca, e ninguém verá, só vais sentir quando passar por ali outro alguém, por onde estive e fui bem-vindo, passageiro.
Seu cabelo será véu para que guardes e seja inteiramente seu, para seu prazer, quando te lembrares. Vais lembrar e será vivo, tão vivo quanto estou agora, às duas e cinquenta e poucos de uma madrugada de terça-feira.
Não olheis como medíocre essas declarações minhas, saibam que, sem querer, me descuidei e quando vi me deixei sentir. Ainda, como se não bastasse a pretensão, acho que posso falar do que guardo, do que sinto. Posso e escrevo.
Publicado em Quando eu não durmo, eu escrevo.